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QUINHENTISMO BRASILEIRO

QUINHENTISMO BRASILEIRO

QUINHENTISMO

 1 – Introdução

No final do século XV, os portugueses haviam se tornado mestres na arte de navegar. A Escola de Sagres, uma construção conservava até hoje nas rochas do Cabo de São Vicente, era o que havia de mais moderno em pesquisa náutica. O próprio Colombo atravessou o oceano Atlântico, em 1492, utilizando a tecnologia desenvolvida em Portugal.

A hipótese da existência de novas terras tinha sido confirmada. Os países da Europa viviam em efervescência pela conquista de novos mundos. Portugal, transformado em grande potência marítima, no seu afã mercantilista foi espalhado a “Fé e o império” por toda parte. Podemos dizer que a vela quadrada das caravelas portuguesas teve para os grandes descobrimentos o mesmo papel que o foguete Saturno V na conquista da lua.

Foi assim que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 1500, época em que vigorava o Humanismo em Portugal. Esse fato foi tão importante para os portugueses da época quanto foi, para a humanidade, a chegada do homem à lua em 1969. E como não havia televisão para transmitir o feito, escrivão-mor da esquadra cabralina __ Pero Vaz  de Caminha __ escreveu a Carta ao rei d. Manuel.

Após seu descobrimento, o Brasil ficou por cerca de meio século sem merecer investimentos por parte dos descobridores. Enquanto na Europa era vertiginoso o avanço técnico e cultural, nas terras recém-descobertas não havia ainda iniciativas administrativas e educacionais.

Os maiores contingentes de pessoas que acorreram ao Brasil-Colônia __ exploradores (1530) e trabalhadores (1548) __ constituía-se de estrangeiros. Portanto, o Brasil vivenciou, desde seus primeiros anos, uma economia e uma cultura importadas. Somente em 1549, com a criação de uma escola jesuítica na Bahia, é que teve início a educação no Brasil. E a literatura?

 2 – Literatura Informativa

Os primeiros escritos sobre o Brasil foram documentos de caráter informativo, referentes à terra rica e fecunda, aos nativos estranhos, ao clima tropical, às condições gerais de vida e às atividades colonizadoras. Essa literatura informativa sobre a nova terra (1500-1601), feita por viajantes e missionários, foi significativa, embora não passasse de crônica histórica. Foi graça a esses “retratos” iniciais da terra descoberta que, mais tarde, artistas de vanguarda puderam levar nossas letras a uma posição de crítica e de autonomia. Basta lembrar José de Alencar, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, e outros.

 3 – Literatura Jesuítica

Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil quase cinqüenta anos depois de seu descobrimento (1549). Vieram com o objetivo de catequizar os índios e ministrar o ensino no país. Fundaram os primeiros colégios, únicos centros de atividade intelectual no Brasil-Colônia. Os índios eram objeto de cuidados especiais, ao passo que os escravos africanos que aqui chegaram dez anos depois (1559) eram destinados à exploração.

Foram os jesuítas os iniciadores de nossa literatura. O padre Manuel de Nóbrega escreveu suas primeiras cartas em 1549 e, mais tarde, Anchieta, com seus trabalhos (poesias, autos, gramáticas), ampliou o campo literário e informativo.

O padre Fernão Cardim relata em seus escritos que os nossos índios tinham grande habilidade para a música e para a dança, gostavam da trova repentista e sabiam narrar as façanhas dos antepassados, especialmente as mulheres. Os missionários logo perceberam que poderiam utilizar a vocação para as artes dos índios para a catequese. Desse modo, introduziram no Brasil o teatro, a música e a dança, que teriam grandes desdobramentos no futuro.

Os jesuítas da companhia de Santo Inácio de Loyola fizeram parte da história do Brasil desde seus primeiros anos. Embora condenassem a poligamia e a antropofagia, aprenderam a respeitar a cultura indígena. Na defesa dos direitos humanos, entraram em choque com os colonos que buscavam escravizar índios e tomar suas terras. O Pe. Antônio Vieira também se destacaria na luta para reservar aos índios o espaço a que tinham direito.

 4 – Principais representantes

Alfredo Bosi, importante crítico literário, resumiu assim autores e obras significativos dos primórdios da nossa literatura informativa e jesuítica:

  • a “Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel”, referindo o descobrimento de uma nova terra e as primeiras impressões da natureza e do aborígine;
  • o Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil, de Pero Magalhães Gândavo (1576);
  • a Narrativa epistolar e o Tratado da terra e da gente do Brasil, do jesuíta Fernão Cardim (a primeira certamente de 1583);
  • o Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587);
  • os Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618);
  • as Cartas dos missionários jesuítas, escritas nos primeiros séculos de catequese;
  • o Diálogo sobre a conversão dos gentios, do Pe. Manuel de Nóbrega;
  • a História do Brasil, Frei Vicente do Salvador (1627).
  • o Diário de Navegação, de Pero Lopes de Sousa, escravidão do primeiro grupo colonizador, o de Martim Afonso de Sousa (1530);

 5 – Dados biográficos do autor

Padre José de Anchieta (1534-1597) nasceu em Tenerife, nas Ilhas Canárias. Chegou ao Brasil, ainda noviço, junto com o governador Duarte da Costa. Missionário e catequista, exerceu, também, funções governamentais em São Vicente. Participou dos acontecimentos que levaram à fundação de Piratininga (São Paulo). Foi reitor do Colégio São Vicente e superior do Colégio do Espírito Santo. Faleceu em Reritiba, no Espírito Santo.

Obras: De beata virgine Dei matre Maria (poema em louvor à Virgem Maria, 1563); Autos (teatro religioso, 1579?); Na festa de São Lourenço (auto religioso, 1583); Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil (1595); Primeiras letras (poesia e prosa, 1923); Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões (1933); Poesias (1954); Poemas dos feitos de Mem de Sá (1958).